quinta-feira, 4 de junho de 2015

SOLENIDADE DOS SANTÍSSIMOS CORPO E SANGUE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
(Igreja Matriz de N. Sra. da Conceição - Povoado Mosqueiro, Aracaju, Sergipe - 04 de junho de 2015)

"É sentida por demais pelo Senhor a morte de seus santos seus amigos"  - Sl 115, 15


O Senhor sempre nos tem um amor imenso, não obstante chamando-nos 'amigos’, tal como na Última Ceia: a noite da instituição da Eucaristia: "Vós sereis os meus amigos se seguirdes meus preceitos".

Amigo, vocativo que aparenta estar desgastado pelo seu uso inadequado, baseado em sentimentos distantes ou pouco consistentes, frágeis. Bem diz o Eclesiástico: "O amigo fiel é um medicamento de vida e imortalidade" (Eclo 6,16). Logo, o que assistimos do mundo e que se nos apresenta como amizade, não o é de fato.

"É sentida por demais pelo Senhor a morte dos seus santos, seus amigos" (Sl 115,15). Com esta afirmação do Salmo Responsorial de hoje, nesta Solenidade de Corpus Christi, percebemos com grandeza quão tamanha é a importância que temos diante de Deus. Fomos elevados à condição de santos, porque pela participação no Sacramento do Altar, participamos já da Vida Divina, simultaneamente ao que deixamos transparecer a essência de Deus em nós: a Sua Santidade; tornamo-nos tão intimamente amigos que ganhamos as Suas feições.

O Senhor nos quer próximos a Si. Por isso que o Salmo afirmar o seu sentimento com a nossa distância, com a nossa ausência trazida pelo autor sagrado como 'morte'. Não é a morte enquanto fim da existência biológica, mas uma muito mais lamentável: a morte do interior humano; do seu senso de fé; o aferrecer no relacionamento com o Senhor. Sem Ele não existimos; sub-existimos com carências gravemente extremas.

Cremos que Deus, assim como está no céu, encontra-se na Eucaristia. Ele no-lo garantiu ao dizer: Isto é meu Corpo... Isto é meu Sangue... Devemos procurá-lo sempre onde própria e efusivamente Ele se dá. Não existe outra realidade no mundo que seja Deus essenciamente quanto na Eucaristia. Jesus no Santíssimo Sacramento é o melhor dos amigos.

Daí o motivo para Santo Afonso de Ligório, como contando um segredo, uma experiência de sua alma enamorada com Deus, afirmar:

"Bem suave é estar a gente na companhia de seu amigo querido; e não nos será suave neste vale de lágrimas, estarmos na companhia do melhor dos amigos, de um amigo que pode nos encher de todos os bens, nos ama apaixonadamente e por isso se deixa ficar continuamente conosco? Eis que no Santíssimo Sacramento nos podemos entreter com Jesus à nossa vontade, abrir-lhe o coração, expôr-lhe as nossas necessidades, pedir-lhe graças. Podemos, numa palavra, neste mistério tratar com o Rei do Céu com toda confiança e singeleza. [Muito] felizes somos nós por termos sempre conosco, nesta miserável terra, nosso Deus feito homem, que, com o coração cheio de amor e de misericórdia, nos honra com sua presença real a cada instante de nossa vida. [...] Eis que aqui está nosso bom amigo Jesus Cristo, que neste Sacramento nos anima com estas palavras: 'Convosco estou todos os dias'. Eis-me aqui todo para vós, vindo céu à vossa prisão de propósito para vos consolar, ajudar e pôr em liberdade. Acolhei-me, fiquemos sempre juntos, uni-vos a mim; que então não sentireis mais o peso das vossas misérias, e depois vireis comigo para o meu reino, onde vos farei plenamente felizes. A toda alma, que o visita no Santíssimo Sacramento [e principalmente o recebe na comunhão da Missa] Jesus diz como outrora o Esposo Cântico dos Cânticos: "Levanta-te, apressa-te, minha amada e vem" (Ct 2,10). Levanta-te de tua miséria, pois aqui estou para te enriquecer com minhas graças. Aproxima-te, não temas minha divina majestade, que se humilhou neste Sacramento para dissipar o teu temor e te inspirar. Tu não és mais minha inimiga, mas minha amiga, já que me amas e eu te amo. A minha graça te fez tão bela à minha vista. Vem, pois, a mim, vem lançar-te nos meus braços, e pede-me com toda confiança o que de mim queres. - Vamos, pois, a Jesus com muita confiança e amor, unamo-nos a ele e roguemos-lhe graças. Ó Verbo eterno, feito homem e sacramento por meu amor, quanta deve ser a minha alegria, quando penso que estou diante de vós, que sois o meu Deus, a Majestade suprema, a bondade infinita, diante de vós, que tão ternamente amais a minha alma. [...] Fazei com que eu ponha em vós todos os meus afetos. Tornai-vos dono de toda a minha vontade, possui-me por inteiro. Consagro-vos o meu espírito, para que se ocupe somente com vossa bondade; consagro-vos também o meu corpo, para que me auxilie a vos agradar; consagro-vos a minha alma, para que seja toda vossa. Quero no futuro fazer tudo que puder para vos ser agradável".

Que o amor que inflamou o coração dos santos, dos amigos de Deus, seja-nos um potente exemplo para que nos dilatemos na amizade com 'O Sacramentado', deleitando-nos sempre Nele, fomentando profundamente o nosso interior para, com a nossa vida intimamente unida a d'Ele, façamos a Sua vontade, expressando-Lhe o nosso imenso amor, ao repousarmos em Seu coração, deixemos que Ele se decline no nosso, tal como Ele quis: "Vós sereis os meus amigos se seguirdes meus preceitos" (Jo 15,15).

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